"Tudo que é importante costuma ser ignorado", Louis Pauwels

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Somos cristãos ou somos só romanos?


Interessante pensar que antes do movimento da cristandade se espalhar pelo mundo era muito normal decidir-se qualquer parada na ponta da espada, sem maiores dramas. Era a Pax Romana, que os césares impunham à força, tomando na tora territórios e assassinando sem qualquer escrúpulo os que se arvoravam a cruzar o caminho da maior potência militar do mundo antigo. 

O império ruiu, os bárbaros transformaram o mundo, mas a revolução iniciada pelo nazareno Yeshua ( cujo nome foi ocidentalizado para Jesus ) é influente no planeta até hoje.

A beleza das palavras, os milagres, a força da filosofia do amor, a tendência cativante pela tolerância em uma mensagem preferencialmente voltada para os oprimidos cativou a maioria da humanidade. Desde então, os líderes antes implacáveis passaram a utilizar o nome de Jesus no discurso.

Aliás, como fazer a partir de então um discurso sem a referência a Jesus? Se tornou o nome mais popular, o mais aceito, o mais admirado. Incluir o nome do nazareno seria sempre garantia de políticamente correto, a maquiagem perfeita, inclusive para um conquistador romano. Por outro lado, deixar de fora esta referência passou a ser associado ao mundo que foi deixado para trás; opressor e pagão.

Tornou-se portanto cômodo, necessário e aconselhável agregar-se essa influência como nova estratégia de marketing. E foi assim que o imperador Constantino uniu o império: a partir da sua conversão ao cristianismo. Tal qual acontece em governo com alta taxa de aceitação, todos passam a querer a qualquer momento dizer que são cristãos desde criancinhas, mesmo que alguns cristãos de fato tenham sido jogados ( pelos agora convertidos ) para serem comidos pelos leões no coliseu.

E o que muda a partir da nova estratégia? A estampa. Se a marca é boa e cai no gosto do consumidor, então temos aqui o comércio perfeito almejado por todos. A despeito dos corações verdadeiramente consagrados à mensagem de Cristo, os romanos continuaram sendo romanos por debaixo da maquiagem. Não podiam deixar de ser porque a essência do lobo é sangrar as ovelhas para aplacar sua fome, mesmo que precisassem desesperadamente da máscara para serem aceitos, até pelos próprios compatriotas.

E assim tem sido. A belíssima mensagem de Yeshua serviu e serve de cartão de visita, máscara protetora, discurso pronto. É uma mensagem que destranca portas e provoca simpatias por pessoas que a utilizam como recurso.

Entretanto, a Pax Romana, a conquista opressora, o mundo negativo de Calígula e Nero estão talvez ainda mais presentes hoje, em nova roupagem, por debaixo da maquiagem, embutido nas corporações, na luta pelo destaque pessoal com toques high tech.

Isso lhe provoca alguma náusea? Não vejo assim. Observando a questão por um viés mais racionalista, criticar tal conduta poderia ser até mesmo uma injustiça.

Afinal é esse o máximo que boa parte da civilização consegue chegar da compreensão de cristianismo no atual estágio de evolução.

E, sem o disfarce atenuante, aí é que a humanidade poderia ser mesmo intragável.

Celso Rommel


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