Não sabíamos mais que horas eram, porque aquela era a Terra da Sombra Constante. Um lugar aos quais os mortais se referiam como a "a extremidade do mundo", o local estranho entre os estranhos, onde as coisas mesquinhas eram mais importantes do que as verdadeiras.
Um pássaro mensageiro que voava na imensidão cinza trazendo uma folha de esperança era abatido ainda no céu pelos caçadores cruéis e, ao tocar o solo, a folha ressecava e se transformava em sangue.
Era a Terra da Sombra Constante e, mesmo no verão, quando a luz ainda mais quente do sol passava pela atmosfera, ainda assim no coração daqueles viventes havia falta de claridade, de forma que o mofo nas prateleiras era normal. Aliás, ninguém notava isso pois estavam obstinadamente ocupados em matar.
A certo ponto da jornada, os fugitivos da Terra da Sombra Constante não sabiam se olhavam para trás ou para a frente e, enquanto ouviam os urubus batendo asas aos milhares, choravam ao lembrar da promissora infância.
Falaram de uma criança que emanava um brilho especial, atravessando os ciclos do tempo, deixando pingar a gota mágica da ternura. Temida pelos cruéis, ela chegaria na fronteira, atravessando o fosso do esquecimento para chegar até aquele desesperançoso lugar.
Era porém aguardada pelos chacais, que a prenderam numa armadilha insidiosa, no alto de uma torre, onde está até hoje.
De longe notava-se que a torre refletia seu brilho, iluminando o breu das sombras
E quem esteve perto contou que sempre ouvia a criança cantar...
Celso Rommel
Celso Rommel
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