"Tudo que é importante costuma ser ignorado", Louis Pauwels

sábado, 11 de fevereiro de 2017

Os fantasmas se divertem ou porque a música mundial não cria mais ídolos





Algumas cenas do passado recente do show business de, digamos, trinta, quarenta anos atrás, soam algo surreais nos tempos de hoje. Pessoas enlouquecendo por causa de seus ídolos, gente capaz de comprar um disco raro de vinil por quantias mirabolantes ( só para ter acesso a uma porção bem guardada do talento de seu artista favorito ) filas intermináveis nas imediações de um teatro para ver o show de um medalhão do rock no auge da carreira, músicos sendo recebidos por chefes de estado...

Essas coisas se foram. Há quem lamente, mas também há quem ache que foi bom acabar. Eu, sinceramente, lamento. Por um simples fato: a música do jeito que as pessoas se acostumaram a amar tem certas regras de ouro. Uma delas é a de que precisava continuar sendo glamourizada para que tivéssemos artistas incentivados a criarem obras primas. A partir do momento em que música virou arroz de festa, automáticamente a qualidade geral caiu.

Por outro lado, parece que o rock, considerado ritmo musical mais popular do planeta, não conseguiu fazer o seu costumeiro "salto revolucionário", que empreendia sempre a cada década, a cada sentença de morte à qual era submetido. Assim o fez nos 60 com o pop, nos 70 com o punk, nos 80 com o New Wave, e nos 90 com o grunge. Depois disso, a grande revolução foi uma espécie de implosão do estilo, com a música sendo livremente baixada na internet e não mais vendida nas prateleiras, morrendo não só o vinil como também o CD e o DVD para dar lugar ao... mp3? ou talvez algo ainda menor. 

A coisa tem chegado a tal forma que já não se vê tantas pessoas que tenham envolvimento profundo com música enquanto arte, tal qual se via até há alguns anos ( ou décadas ) atrás.  O resultado é, em sua maior parte, música para quem não gosta tanto de música, já que a música continua existindo através de artistas de isopor, ocos, sem conteúdo real. E isso não é culpa deles, já que estão fazendo o que todo artista faz: refletir na arte o que acontece no mundo. Se o mundo tem se tornado superficial, virtual, simulado, nada mais natural do que a música também reflita tudo isso.
E assim é que tem surgido, já há algum tempo, uma categoria de ouvintes, a maioria jovens, que preferem o revival de épocas anteriores, nas quais estes fãs nem eram nascidos. É a busca pelo real ( ao invés do virtual ) que motiva adolescentes a se especializarem na vida e obra de dinossauros, deixando de lado os lançamentos que poderiam manter funcionando o necessário sistema de renovação. 

Vale lembrar que atualmente o saudoso Bob Marley continua sendo responsável por mais de cinquenta por cento das vendas de discos e artigos de reggae. O mesmo acontece com nomes remanescentes dos anos 60 e 70 como Rolling Stones, Police e Paul McCartney, entre os principais, que enchem estádios quando nomes de "sucesso" da atualidade não conseguem faze-lo. Por que?

Fantasmas como Lennon, Elvis, Michael Jackson... continuam faturando aos tubos através de livros, filmes, publicidade nas mais diversas formas. Enquanto isso, os novatos...

Parece que, de alguma forma, as pessoas tem percebido que não há mais ninguém tão especial que mereça ser idolatrado, já que todos estão ao alcance de um clique. As cores em HD tornam tudo muito definido, não sobra espaço para imaginação. As portas da percepção de Huxley e Jim Morrison ou estão fechadas ou escancararam de vez. Desta forma, os gênios da música foram substituídos por figuras oriundas de reality shows da televisão,  a telinha ou telona também soando como um meio de comunicação algo cambaleante...

E o que virá depois? Talvez alguém na Inglaterra decrete de vez que não se fará mais música, simplesmente porque não há mais do que se falar, ou quem leve a sério, quem queira ouvir. Toda evolução leva a algum lugar não é?

Celso Rommel

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