"Tudo que é importante costuma ser ignorado", Louis Pauwels

domingo, 21 de abril de 2019

Antigo Brazil, Aanchi é uma terra feliz






O apocalise já tinha acontecido há séculos quando o jovem Jin Quon, um aluno aplicado de história, acessava os arquivos da faculdade na busca por concluir o seu trabalho de proeficiência.   Na letra B, referente  a uma época distante, descobriu por acaso o verbete BRAZIL. A palavra, que tem significados vários, desde a mítica ilha de Hy Brasil até a derivação da palavra portuguesa "brasa", lhe chamou a atenção no quesito que tratava da evolução de um antigo território colonial situado na América do Sul.

Impossivel pesquisar sobre o território do Brazil sem compreender o período derradeiro da história do povo que ali habitava. Os registros históricos milenares, gravados em memória eterna na nuvem sagrada, dão conta de que houve um projeto criado pela antiga Portugal ( muito antes da unificação que gerou a tão desejada paz) cuja continuação se tornou impossível devido à questões climáticas e raciais.

Jin anotou que "os primeiros colonizadores reclamaram do clima. Os últimos também. Os primeiros colonizadores alegavam que só os de raça branca poderiam herdar a terra. Os últimos também".  A frase parecia uma simplificação incompleta e ele preferiu apagar para não dar conotação excessivamente rasa aos seus estudos.

No lugar pontuou: " foi inviabilizado por contendas irreconciliáveis".  Importante lembrar que, para um jovem da civilização universal, sempre soa estranho falar em "contenda irreconciliável"  (  já que toda contenda nos dias do Grande Irmão seria obrigatoriamente conciliável ) mas não encontrou nada mais apropriado para definir aquele parágrafo de estudo.

Para melhor compreensão, precisamos lembrar que, depois que a maior parte da civilização anterior foi para o beleléu, as novas levas de povos exaustos decidiram rapidamente pela implantação do Governo Universal, sob a orientação de um engenho de inteligência artificial denominado Grande Irmão ( nome dado em homenagem ao clássico de George Orwell ) que decidiria soluções práticas para questões complexas, objetivando a tão desejada paz.

Assim foi que  os problemas territoriais do Oriente Médio foram resolvidos com novas povoações separadas, na Oceania e África - Sim, os árabes e judeus,  reduzidos a algumas centenas de cidadãos, já não tinham os mesmos apegos religiosos do passado.

Já no Brazil a solução foi mais complexa e, por isso mesmo, mais interessante para o estudo do jovem historiador. O antigo território colonial também foi abalado pelo choque apocalíptico, como todas as nações da terra, com mais de dois terços da sua população dizimada. O restante porém ainda se revelava um contingente expressivo de quase meio milhão de almas. Nenhum indio.
Na véspera do desastre, o local já somava trinta anos de guerra civil entre negros e brancos. Mesmo após o choque, a mentalidade dos sobreviventes permanecia a mesma, diferente do que aconteceu por exemplo, no Oriente Médio. Foi detectada uma distorção de memória coletiva presente no próprio DNA, perigosa para qualquer continuidade civilizatória, por mal condicionamento genético.

G.I propôs a  solucionática através de três alternativas ao grupo de representantes do Conselho Universal. A primeira contou com imediata negativa da maioria: a reprogramação cerebral em massa. Para tanto seria necessária um ação invasiva que dificilmente seria aceita de bom grado, ameaçando o propósito da paz almejada.
A segunda, o confinamento dos sobreviventes em um território na Antártida, também sofreu oposições, já que o projeto poderia provocar no futuro a geração de outro sistema populacional condenado ao caos no continente do extremo sul, com risco de espalhar-se para outras regiões.

A terceira hipótese, mais aprazível, teve de ser ajustada para ser aceita e posta em prática: Toda a  malfadada experiência portuguesa seria deletada com a transferência da totalidade da população sobrevivente para um assentamento na lua Europa de Vênus, em um projeto piloto de assentamento.  Ocorre que, quando o mundo estava a beira do desastre, muitos investimentos foram feitos em Europa, já adaptada com o objetivo de criar-se ali uma escape para uma população fugitiva. Depois do choque, entretanto, ninguém quis abandonar a Terra para tentar a vida em algo tão incerto. Restaram estruturas vazias no local.

Para que o projeto de despovoamento fosse aceito, uma idéia adicional foi decidida e  mantida em segredo por séculos: a divulgação entre os sobreviventes brazilianos da notícia de que toda o solo do planeta estaria contaminado por gases mortais, sendo portanto imprescindível a saída humana para um mundo externo visando a perpetuação da espécie.

Jin Quon precisou ir até o verbete EUROPA para estabelecer diferencial entre o antigo continente europeu ( hoje reduzido a um deserto maior que o Saara ) e a lua de Vênus, atualmente habitada por brazilianos. "Recebemos notícias de Europa todos os dias e não são notícias de paz", assinalou.

"Assim foi que o antigo Brazil, hoje denominado Aanchi ( em chinês antigo, "paz incrível" ou "anjo") foi desmontado e remontado fora da terra. Toda a população que lá produz vive de acordo com os preceitos universais, para o bem geral, conforme os ditames do honorável Grande Irmão", acrescentou.

A história costuma ser contada em Aanchi nas escolas primárias e o artigo de Jin Quon, denominado "Antigo Brazil, Aanchi é uma terra feliz" tem ajudado muito às crianças na melhor compreensão do tema.

2 comentários:

  1. A leitura nos leva a viajar para um futuro onde a negação do passado é a solução para os problemas do presente. Criativo o texto. Senti falta da abordagem sobre os povos nativos. Que sua alma criativa continua ativa e ousada.

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