O apocalise já tinha acontecido
há séculos quando o jovem Jin Quon, um aluno aplicado de história, acessava os
arquivos da faculdade na busca por concluir o seu trabalho de
proeficiência. Na letra B, referente a uma época distante, descobriu por acaso o
verbete BRAZIL. A palavra, que tem significados vários, desde a mítica ilha de
Hy Brasil até a derivação da palavra portuguesa "brasa", lhe chamou a
atenção no quesito que tratava da evolução de um antigo território colonial
situado na América do Sul.
Impossivel pesquisar sobre o
território do Brazil sem compreender o período derradeiro da história do povo
que ali habitava. Os registros históricos milenares, gravados em memória eterna
na nuvem sagrada, dão conta de que houve um projeto criado pela antiga Portugal
( muito antes da unificação que gerou a tão desejada paz) cuja continuação se
tornou impossível devido à questões climáticas e raciais.
Jin anotou que "os primeiros
colonizadores reclamaram do clima. Os últimos também. Os primeiros
colonizadores alegavam que só os de raça branca poderiam herdar a terra. Os
últimos também". A frase parecia
uma simplificação incompleta e ele preferiu apagar para não dar conotação
excessivamente rasa aos seus estudos.
No lugar pontuou: " foi
inviabilizado por contendas irreconciliáveis". Importante lembrar que, para um jovem da
civilização universal, sempre soa estranho falar em "contenda
irreconciliável" ( já que toda contenda nos dias do Grande Irmão
seria obrigatoriamente conciliável ) mas não encontrou nada mais apropriado para
definir aquele parágrafo de estudo.
Para melhor compreensão, precisamos lembrar que, depois que a maior parte da civilização
anterior foi para o beleléu, as novas levas de povos exaustos decidiram
rapidamente pela implantação do Governo Universal, sob a orientação de um
engenho de inteligência artificial denominado Grande Irmão ( nome dado em
homenagem ao clássico de George Orwell ) que decidiria soluções práticas para
questões complexas, objetivando a tão desejada paz.
Assim foi que os problemas territoriais do Oriente Médio
foram resolvidos com novas povoações separadas, na Oceania e África - Sim, os
árabes e judeus, reduzidos a algumas
centenas de cidadãos, já não tinham os mesmos apegos religiosos do passado.
Já no Brazil a solução foi mais
complexa e, por isso mesmo, mais interessante para o estudo do jovem
historiador. O antigo território colonial também foi abalado pelo choque
apocalíptico, como todas as nações da terra, com mais de dois terços da sua
população dizimada. O restante porém ainda se revelava um contingente
expressivo de quase meio milhão de almas. Nenhum indio.
Na véspera do desastre, o local
já somava trinta anos de guerra civil entre negros e brancos. Mesmo após o
choque, a mentalidade dos sobreviventes permanecia a mesma, diferente do que
aconteceu por exemplo, no Oriente Médio. Foi detectada uma distorção de memória
coletiva presente no próprio DNA, perigosa para qualquer continuidade
civilizatória, por mal condicionamento genético.
G.I propôs a solucionática através de três alternativas ao
grupo de representantes do Conselho Universal. A primeira contou com imediata
negativa da maioria: a reprogramação cerebral em massa. Para tanto seria necessária
um ação invasiva que dificilmente seria aceita de bom grado, ameaçando o
propósito da paz almejada.
A segunda, o confinamento dos
sobreviventes em um território na Antártida, também sofreu oposições, já que o
projeto poderia provocar no futuro a geração de outro sistema populacional
condenado ao caos no continente do extremo sul, com risco de espalhar-se para
outras regiões.
A terceira hipótese, mais
aprazível, teve de ser ajustada para ser aceita e posta em prática: Toda a malfadada experiência portuguesa seria deletada com a transferência da totalidade da
população sobrevivente para um assentamento na lua Europa de Vênus, em um
projeto piloto de assentamento.
Ocorre que, quando o mundo estava a beira do desastre, muitos
investimentos foram feitos em Europa, já adaptada com o objetivo de criar-se
ali uma escape para uma população fugitiva. Depois do choque, entretanto,
ninguém quis abandonar a Terra para tentar a vida em algo tão incerto. Restaram
estruturas vazias no local.
Para que o projeto de
despovoamento fosse aceito, uma idéia adicional foi decidida e mantida em segredo por séculos: a divulgação
entre os sobreviventes brazilianos da notícia de que toda o solo do planeta
estaria contaminado por gases mortais, sendo portanto imprescindível a saída
humana para um mundo externo visando a perpetuação da espécie.
Jin Quon precisou ir até o
verbete EUROPA para estabelecer diferencial entre o antigo continente europeu ( hoje reduzido a um
deserto maior que o Saara ) e a lua de Vênus, atualmente habitada
por brazilianos. "Recebemos notícias de
Europa todos os dias e não são notícias de paz", assinalou.
"Assim foi que o antigo
Brazil, hoje denominado Aanchi ( em chinês antigo, "paz incrível" ou
"anjo") foi desmontado e remontado fora da terra. Toda a população
que lá produz vive de acordo com os preceitos universais, para o bem geral,
conforme os ditames do honorável Grande Irmão", acrescentou.
A história costuma ser contada em
Aanchi nas escolas primárias e o artigo de Jin Quon, denominado "Antigo
Brazil, Aanchi é uma terra feliz" tem ajudado muito às crianças na melhor compreensão do tema.
A leitura nos leva a viajar para um futuro onde a negação do passado é a solução para os problemas do presente. Criativo o texto. Senti falta da abordagem sobre os povos nativos. Que sua alma criativa continua ativa e ousada.
ResponderExcluirParabéns!
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