domingo, 20 de novembro de 2016

A volta que não houve e o recente comunismo no Brasil

Desde a queda do Muro de Berlim, quando o Partido Comunista do Brasil mudou de nome, em 1991, que eu não ouvia falar com tanta frequência a palavra "comunista". Até aquele tempo, ser comunista era chique e desejável, especialmente entre os artistas e intelectuais.  

No Brasil, tem se tornado moda abordar esse termo, de uns dois anos para cá, como argumento político,  mais precisamente desde a acirrada última campanha presidencial e o impeachment.

Conheço pessoas que recentemente deram palpite até na eleição norte americana, alegando ser mais "segura" a eleição de Trump, já que Hillary seria mais "comunista" ( devo lembrar que Hillary é tão afeita ao capitalismo selvagem de Wall Street quando o eleito Trump ). Este tipo de debate trazendo de volta a palavra praticamente extinta em nível mundial se dá no Brasil, graças à polaridade na disputa entre os partidos conservadores e os trabalhistas, mais identificados pelas siglas PSDB/PMDB/DEM  e PT/PDT/PCdoB.

Para não faltar com o assentamento da realidade na mente daqueles que não se deixam lobotomizar, vale lembrar que comunismo foi um sistema de governo que dividiu corações e mentes no mundo do século XX (especialmente na segunda metade, com a chamada "guerra fria"  ) mas foi derrotado pelo neo liberalismo na virada dos anos oitenta e arquivado pela história da civilização, só restando em sua proposta original como amostra esdrúxula em dois países, dentre 193 que compõem o globo terrestre: Cuba e Coréia do Norte. Este primeiro,porém, já ensaiando uma reforma geral à moda chinesa, graças a um acordo de abertura comercial com o vizinho U.S.A. Houve outra exceção recente que deu com os burros n'água, o bolivarianismo de Chavez na quebrada Venezuela, que não era bem comunismo mas usava alguns símbolos bastante saudosos. O impacto do fim do comunismo foi tal nos anos noventa que o filósofo Francis Fukuyama chegou a declarar "o fim da história", em uma teoria que marcou época.

Portanto, levantar a hipótese de que alguém ou algo está sendo comunista atualmente em quase todo o mundo equivale quase a relatar aparição de fantasmas, mula sem cabeça ou negrinho do pastoreio.

Ser comunista hoje, em tempo de globalização, é fora de moda, anacrônico e, no mínimo estranho. Em condições normais, ninguém, especialmente da classe política, deveria desejar esses rótulos para si. Mas, ainda que fosse, qual o problema? Existe algum tipo de novo macarthismo tupiniquim em marcha? O que há de reprovável em alguém declarar que acredita em E.Ts, querer fundar o Partido Transexual ou se declarar comunista?
O que existe hoje é a necessidade de se inventar uma palavra nova para definir novas convicções de pensamento. Afinal, país ou pessoa não alinhados com os Estados Unidos, não seriam necessáriamente comunistas, pois se assim o fosse a França seria bolchevista por não ter aderido à Guerra do Iraque de Bush filho.

Dar dinheiro aos pobres também não torna cidadão ou governo marxista-leninista. Se assim o fosse, Bill Gates seria o Fidel norte americano, por ter doado bilhões para instituições de caridade e os programas de renda mínima que existem na maior parte dos países da Europa fariam destes "países vermelhos".

Acreditar em mais igualdade entre os homens, com respeito às minorias é uma causa presente em várias religiões, filosofias e também na constituição dos Estados Unidos. Não é característica somente dos regimes comunistas. Aliás, vale lembrar que os Estados Unidos fizeram sua reforma agrária ainda no século XIX, como a maior parte dos países capitalistas desenvolvidos, mas nem isso faz com que o MST ame os gringos.

Um problema provocado pela preguiça mental, gerada também pela lamentável animosidade política no Brasil, é o de se aderir a uma tendência sem saber direito de onde veio e para onde vai, só porque cai bem a um sentimento pessoal. Tal como aquele jovem que usa uma camisa com dizeres em inglês sem saber que está divulgando alguma frase auto depreciativa. A frase, para quem não entende inglês, não importa, o que vale a pena para ele é saber se a camisa é bonita.


Celso Rommel

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